segunda-feira, 22 de abril de 2013

ROMANCE, parte XVII


XVII

Na fazenda de Beatrice, a agitação iniciou  com o amanhecer, todos na casa
se apressavam em preparar o jantar de noivado.
Rosa contemplava Beatrice indo e vindo com a leveza dos enamorados.
O momento tão almejado acontecera, a filha estava vivendo um grande e
verdadeiro amor.
A festa transcorreu em meio a muita descontração. Fernando e Beatrice
aproveitaram para anunciar o casamento para o  próximo verão.
No verão seguinte Fernando e Beatrice, se casaram e passaram a residir na
capital. A jovem continuou no exercício de sua profissão, ora ou outra
viajava à trabalho.
Ao retornar, por muitas vezes, não encontrava Fernando, assim como
acontecia a qualquer hora do dia ou da noite de ele se ausentar sem avisar
e/ou se despedir. Estava sendo bem mais difícil do que ela imaginara,
entretanto seria preciso se acostumar, afinal sabia o porquê, o rapaz foi
muito claro  sobre a sua atuação profissional.
Diante do contesto e em meio a idas e vindas,  usufruíam de momentos
gratificantes, não desperdiçavam as oportunidades. Curtiam  a gastronomia
caseira, o vinho, a lareira, a companhia dos amigos e principalmente a
companhia um do outro. Vez ou  outra até conseguiam viajar em  férias
juntos.
Após dois anos de casamento, já falavam em ter filhos, embora um pouco
assustados, mas enfim deixariam a natureza se encarregar, quando
acontecesse, certamente saberiam como conduzir.
Numa noite de inverno,  que a neve caia magnífica, crianças e adultos se
ocupavam em fazer e adornar lindos bonecos de neve, Beatrice
contemplava através da vidraça da janela de seu quarto e não demorou
muito a descer e juntar-se ao grupo.
Não lembra muito bem, mas acredita que já estava ali há mais ou menos
uma hora, quando ouviu o tilintar da campanhia de sua residência, o que a
fez virar-se e se deparar com o militar parado, junto à porta.
O sangue gelou em suas veias causando-lhe uma imensa fraqueza, por todo
o corpo, o que  lhe impedia  de  ir ao encontro do oficial.
Fernando morreu num acidente de automóvel, causado pelo nevoeiro,
numa estradinha de chão em meio as montanhas, no entardecer daquele
mesmo dia.
Com morte de Fernando Beatrice reviveu a perda dos pais, sabia o que a
esperava: a dor, a solidão interior, a saudade, a interrupção de sonhos
acalentados.
Os dias que se seguiram se tornaram penosos, idealizava  que a qualquer
momento ele entraria pela porta, com aquele sorriso maroto, cheio de
saudades.
A jovem procurou mergulhar no trabalho, mas não estava sendo eficiente
para aplacar a dor da ausência, a certeza do finito.
Sentindo a necessidade de se recolher, Beatrice decidiu passar uma
temporada na fazenda.
Rosa, Inácio e o padrinho Leopoldo estariam lá, como sempre estiveram e,
neste momento, era tudo o que ela precisava, estar com eles, ser abraçada
por eles.
Os dias e noites  eram intermináveis, cada amanhecer era penoso,
apesar da visitas de amigos e parentes.
Numa dada manhã a jovem acordou mais disposta, decidiu ir até o bosque.
A primavera proporcionava um cenário paradisíaco. Andou até que chegou
à clareira e localizou o balanço de madeira e corda, amarrado numa imensa
árvore. Não resistindo sentou-se e iniciou a embalar-se.
O vento morno lhe acariciando o rosto,  o perfume das flores  e o canto dos
pássaros lhe proporcionava uma imensa paz.
Quando Beatrice parou o balanço foi surpreendida por um movimento,
dentro de seu ventre, que durou apenas uns segundos, mas o suficiente para
lhe inquietar.
Um misto de felicidade e dúvida  se fez sentir.
O receio de estar se iludindo a levou a tentar desconsiderar o acontecido.
Voltou para casa e não fez qualquer comentário.
Rosa, como sempre e por conhecer bem a filha, iniciou os
questionamentos, ao que a jovem foi administrando até o momento que
adentraram na cozinha e Beatrice, fez uma careta, ao sentir os aromas das
suas  refeição preferidas.
Mãe e filha se abraçaram longamente, riam e choravam.
Sim, Beatrice estava grávida.
Não tinha como negar o ser, pulsando no seu ventre, exigia que ela
deixasse de se ocupar da morte e passasse a se ocupar da VIDA.

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